sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Sobre ser gorda.

Todo gordinho é alegre. Todo gordinho é feliz. Ser gordinha é excesso de gostosura! Homem de verdade gosta de carne, quem gosta de osso é cachorro. Ela é gordinha MAS é muito bonita. Aquela gordinha simpática.
Você já deve ter ouvido ou falado alguma dessas frases. Tudo bem, sem julgamentos, pois eu também já falei muito. E tem que ser tudo no diminutivo, sempre que falar que é “gordinha” tem que ser sorrindo pra passar aquele ar amável, carinhoso, como “olha, tô brincando com você, não se ofenda” como se gordo fosse uma ofensa. Na verdade é o que os magros consideram. Tem até aquele “SUA GORDA!” quando querem xingar alguém, por mais que a pessoa não seja. Já ouviu alguém xingando “sua barriga de tanquinho!” não, né?

Porque ser gorda é feio pra quem está vendo, nessa nossa sociedade preconceituosa que julga pessoas pela aparência (sim, eu sei o que estou falando, trabalho vendendo beleza, olha que maravilha). A palavra “gordo” incomoda. Ninguém quer ser considerado assim, até você ser e estar ok com isso. É/era o meu caso. É e era ao mesmo tempo e eu vou explicar. Então segura que aqui não é twitter, vai rolar textão e se quiser conversar comenta aqui embaixo ;)

A minha vida toda eu fui mais gorda que magra. Mesmo criança, era considerada gorda (hoje eu olho as fotos, o que eu tinha era uma barriguinha de quem comeu um pouco mais na janta...), sofria bulling – que na época era só a famosa “zueira” que a gente mandava o amiguinho ir pro inferno e tava tudo bem. No ensino médico virei a louca da academia (porque era a Educação Física obrigatória) e emagreci bastante. Cheguei a pesar 76kg, meu recorde da magreza com meus 1.75cm. Lembro de ter um namorado na época que falava “olha, para de emagrecer, que seus ossos estão aparecendo, tá meio feio”.

Na faculdade parei de fazer exercícios e continuei comendo o mesmo de sempre e...engordei! Cheguei aos 98kg. Falando em comida, eu sempre gostei de comer. Mas comer mesmo, de repetir o prato 1 ou 2 vezes, sou viciada em leite com nescau e chocólatra, açucólatra, o que quiserem chamar. É doce, eu tô comendo, e de preferência até acabar. Sempre sofri de ansiedade, e só quem passa por isso sabe como é ruim o julgamento do “isso é só uma desculpa pra comer mais” Nunca me importei com julgamentos de “você tá gorda”, “isso é relaxo” porque eu não me via/vejo feia com meu peso, sempre esteve ótimo pra mim e eu AMO comer.

Aliás, não entendo até hoje quem diz que ama comer e come um tiquinho de comida. Você pode gostar do sabor da comida, você não ama comer. Quem ama comer quer comer mais e mais até não aguentar. (Tipo no rodízio japa, sabe?) Mas voltando...
Quando eu voltei pra SP morei num prédio que tinha academia. A academia tava ali...eu tava ali também...por que não, não é verdade? Emagreci bem! Não voltei pros 76kg, mas fui pros 85kg. (Sempre comendo tudo que eu comia...gente, dieta nunca entrou na minha vida.) Participava de um grupo de corrida, fiz novos amigos, foi sensacional. Aí me mudei e parei de correr. Resumindo, eu fazia exercício quando estava ali, “na minha mão”, fácil. É, eu sou determinada pro meu trabalho porque eu AMO o que eu faço. Não amo me cansar fisicamente, então se quiser, me julga.


E eu estava aqui, feliz e tudo mais do jeito que eu sempre fui, comendo o que eu sempre comi, sem exercícios, morando com meu namorado, arrumando o casamento e eis que comecei a pensar que logo mais quero engravidar, que já tenho 30 anos e emagrecer depois fica mais difícil (assunto polêmico, alguns estudos dizem que não tem nada a ver, outros comprovam que é sim mais difícil). Me peguei olhando pro espelho e vi que mais que isso vai começar a ficar feio. Feio pra mim, não pro mundo porque óbvio que pro mundo eu sou uma aberração de mais de 100kg. É, fui em 2 médicos, os 2 nem me pesaram, nem pediram exames, e disseram que eu preciso emagrecer 20kg e depois ir lá, mesmo eu entregando meus exames de sangue que está tudo perfeito como uma mulher de 18 anos (palavras deles, olha aí a controvérsia). Até o médico do exame pra renovar a CNH –Aline, você tem que emagrecer, hein? 30 anos, tão bonita, tá gorda por que?
Rolou aquela vontade de falar: Gordo não dirige? Ou é só magro? Foca ai no que é pra você fazer, que R$77,00 pra eu ler meia dúzia de letrinhas tá muito caro, não tira minha paciência.
Mas fiz a linha educada e disse que eu tava bem assim e ele: -Bem até você enfartar.
Sim, todo mundo tá bem até enfartar.

Voltando. Deu um prilim em mim e eu resolvi emagrecer. O Henrique já tinha dito que iria parar de fumar em 2017 e começar uma dieta, resolvi fazer o mesmo, fazer a dieta com ele e voltar a correr. E aí pensei que também tinha a opção de fazer uma cirurgia bariátrica. Não é um processo fácil, porém com o psicólogo e todo acompanhamento do médico, já que meu IMC está 39, posso conseguir essa cirurgia pelo plano! E olha que maravilha seria emagrecer mais rápido: posso engravidar depois de 18 meses depois da cirurgia! Perfeito! A educação alimentar vem junto e yes! Tudo pra realizar um sonho (veja, de ser mãe, e não de ser magra).
E aí só de pensar isso vem outros julgamentos...de que esse é o modo mais fácil, que eu sou preguiçosa, que eu não preciso disso pra emagrecer, que vou ficar muito magra e fica feio... Começam a falar do caso da fulana e do fulano que parecem um cadáver de tão magro, ou do outro que emagreceu e depois engordou tudo de novo. E aí te dá aquela preguiça do ser humano novamente.


Aconteça o que acontecer, vão te julgar. Você, gordo, tá lendo? Você sempre estará errado. Errado porque tá querendo emagrecer “por causa da imposição da beleza”, errado porque tá comendo muito, errado porque simplesmente não se importa pelo fato de ser gordo, errado por tentar x ou y atividade física que “não é pra você porque gordo fica feio fazendo esse tipo de exercício”, errado porque admite ter ansiedade, errado por apelar para uma intervenção cirúrgica pra resolver seu “problema”, errado se emagrecer e depois engordar um pouquinho que seja. Mas olha aqui no meu olho: (finge que dá) ninguém está na tua pele. Ninguém sabe o que você passa. Então mesmo que ninguém apoie o simples fato de você tomar qualquer decisão ou nenhuma, tá tudo bem. Não se limite pelo que as pessoas pensam ou o que você pensa que elas pensam. Esteja certo do que você quer. Procure a saúde, você se sentir bem. Você sabe os sinais, assim como eu sei os meus. Seja simplesmente feliz.

(Imagens desse post baixadas do google imagens)

Um comentário:

Unknown disse...

Ai como tava com saudade de te ler. Sua maravilhosa, sei o quanto você é FODA. O resto é resto!