Uma vez me perguntaram como eu me imagino daqui 10 anos. Imediatamente imaginei uma cena, talvez irreal demais, sonhadora demais, improvável ou qualquer outra denominação de uma pessoa realista demais, que não tem sonhos e vive a vida passivamente.
Me vi chegando em casa depois de um dia de trabalho. Era uma casa mesmo, e não apartamento. Entrava pela porta dos fundos, onde deixava estacionado o meu carro branco. Carregava uma mala A3, o que me fez rir pois vi quero continuar trabalhando com publicidade, e ali provavelmente estaria levando as peças da agência pra levar pra algum cliente no dia seguinte, e então entrava com elas para estudar durante a noite.
As luzes estavam todas acesas e cadernos, lápis coloridos, sapatinhos e lancheiras espalhados por toda a sala. Isso tirava meu sorriso por um segundo, mas ele voltava assim que um dos meus filhos apareciam correndo, com uniforme do colégio e de meia (meu terror por gente que anda de meia na casa, só pra encardir...) chegava correndo em minha direção com os braços abertos gritando: “mããããããeee, o fulano (irmão) não quer deixar eu jogar videogame” (falando assim, com voz de criancinha que não sabe falar direito ainda).
Não demora muito e o tal irmão mais velho vem se defendendo, gaguejando e dizendo que não é nada disso, mas ele ganha abraço meu e eu finjo que não estou prestando muita atenção nessa terceira guerra mundial. Mais uns passos e eu encontro uma menininha fazendo a tarefa de casa – pintando algum desenho. Ela pula da cadeira como se tivesse pulando de um muro bem alto e corre pra me dar um abraço e fica pendurada no meu pescoço. Sim, no meu pensamento, naquela hora, eu tinha 3 filhos!
Eu vou até a cozinha e lá está meu marido só de bermuda, sem blusa, fuçando o que comer no armário e eu peço pra ele segurar a menininha um segundo, dou um beijo nele e procuro as panelas pra fazer o jantar. Enquanto isso, meu marido decide fingir que põe ordem na casa e tenta fazer os dois irmãos pararem de brigar e vai jogar videogame com eles. A menininha volta pra mesa pra pintar.
Eu termino o jantar, peço ajuda pra colocar a mesa, jantamos, conversamos, deixo a louça pra empregada (não é pra rir, ok?) e vou pra missão mais difícil do dia: dar banho nas crianças. Saio correndo atrás de todos, que beeeerram pra não entrar no banheiro. Dou banho de um por um. Pijama posto, confiro as tarefas. Tudo ok? Coloco os 3 pra dormir, cada um na sua cama, e é tarefa do pai conferir se estão todos dormindo depois que eu saio do quarto – e é claro que não estão, mas sabem que ainda faltam dar boa noite pro pai.
Enfim consigo tomar banho. É uma mistura de cansaço com felicidade. Deito na cama e consigo conversar sobre tudo com meu marido. Coisas sérias, divertidas, planos pro final pra amanhã, pro final de semana, pras férias, pra daqui 10 anos... Penso no trabalho de amanhã e coloco o despertador pra ligar 30 minutos antes do normal - porque preciso estudar o material do dia seguinte - mesmo sabendo que esses 30 minutinhos serão interrompidos por sono, grito das crianças ou outra coisa mais interessante.
Eu ficaria bem feliz se fosse bem assim.
2 comentários:
"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." Oscar Wilde
Você se encaixa perfeitamente nessa citação. Eu poderia citar também Saint Exupery, que diz que o essencial é invisível aos olhos.
Minha amiga querida, que em 1 ano fez mais por mim do que gente que me conhece a vida inteira é essa pessoa simples, humana, engraçada que consegue algo que muita gente morre sem conseguir: encontrar a felicidade nas coisinhas mais simples e dentro de si mesma.
Sonhos "bobos" são os que a gente carrega no coração, nos olhos e não nos bolsos. Esses sonhos são a verdadeira riqueza da vida, que ninguém pode nos tirar.
Você merece um jantar gostoso em casa ao fim do dia, seus 3 filhos, um marido companheiro e muito mais. :D
Adorei o Post :) ... é uma boa visão de futuro ... felicidade é isso ...
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